O que torna uma pessoa especial para mim?
O simples fato de existir e existindo faz valer sua presença no mundo.
Não pelo que encanta os olhos, mas pelo que revela a alma.
Por isso, não é possível ser especial à primeira vista, mas há muitas
vistas; desnudar a alma é um lento e longo processo de sensibilidade.
Não se pode ser especial pelo que os olhos veem e o tempo brevemente
destrói, mas pelo que se cativa num espaço-tempo sem medidas, dentro do
coração. Isso é tornar-se único.
Ser especial é construção que sobrevive à eternidade; “o que a memória
ama fica eterno”.
Ser especial não se nasce pronto; é um exercício do olhar, de
descoberta das sutilezas do Espírito. Para isso, não basta a presença física ou
virtual; é necessário que uma alma toque outra alma; chamo isso de encontro,
uma conexão que independe dos quilômetros; estar junto é estar do lado de
dentro. Ser especial é virar bagagem do outro, com a leveza das coisas etéreas
que existem sem se fazerem pesadas.
Encontro é quando enxergamos com o coração, não apenas as feridas da
alma, mas também a luzes que dela irradiam, no silêncio do afeto que admira sem
precisar dizer. Entretanto, em dizendo, seja acolhido no silêncio da escuta e, sendo
escutado, seja sentido e, sendo sentido, seja respeitado e, sendo respeitado,
seja humano e, sendo humano, seja especialmente singular em sua humanidade.
Encontro é quando, ao tocarmos as feridas da alma do outro, o façamos
com a delicadeza de quem toca o sagrado e nesse gesto, compartilharmos a cura.
Ser especial, é ser em liberdade: não aprisiona, não sufoca, não
exige, nada pede, nada espera, apenas dá de si mesmo pela alegria de dar-se,
num ato entrega, sem o medo de se perder.
Então, ser especial não se nasce pronto, é tornar-se, é ser, simplesmente, generosamente,
espontaneamente, amorosamente pelos caminhos por onde a vida nos levar.
Andradina, 26 de setembro de 2019.
Célia
Firmino
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