segunda-feira, 18 de junho de 2018


Paralelo entre o pensamento de Heráclito sobre o “devir” e a música “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas.

  
“Prefiro ser essa metamorfose ambulante. Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante. Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. ” Raul Seixas

A filosofia de Heráclito estabelece que vida é constante movimento e, portanto, transformação ou devir.  Para ele, a metáfora do rio representa a fluidez do curso existencial caracterizado pela impermanência. Com base nessa observação, esse filósofo considera que o verdadeiro conhecimento deve ser buscado além das aparências, das experiências, pois que elas são tão mutantes, quanto o rio. A razão, portanto, deve ser a fonte do conhecimento.
            As metamorfoses da vida, a impermanência, o eterno “devir” como lei da natureza aplica-se também ao ser. Para ele, não é possível “ser”, na medida em que o homem está em constante mutação. Lógico pensar que ser é, em última análise, não ser.
 Essa impossibilidade de se consolidar uma identidade permanente para o ser é o tema de Metamorfose ambulante, de Raul Seixas. Da mesma forma que para Heráclito nada existe concretamente, o autor da letra destaca essa impossibilidade de ser estável em relação às concepções existenciais, de se ter uma identidade definida: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante. Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Sobre o que é o amor. Sobre o que eu nem sei quem sou.”
            Além disso, o “ser e não ser” de Heráclito evidencia a concepção de unidade composta pelos contrários, pela duplicidade, ou seja, tudo o que existe traz em si o verso e o reverso como verdadeira identidade de ambos: um depende do outro para identificarem-se.
            Observa-se que a metamorfose só é possível pela existência dos opostos: Se hoje eu sou estrela. Amanhã já se apagou. Se hoje eu te odeio. Amanhã lhe tenho amor. Lhe tenho amor.
O eu-lírico se manifesta sempre dual. Ele prefere viver “nessa metamorfose ambulante”, no devir que traz sempre o desafio do novo a estabilidade que o tempo envelhece.

Célia Firmino
Reflexões Filosóficas – 24.02.2013

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