Paralelo entre o pensamento de Heráclito sobre o “devir” e a música “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas.
“Prefiro ser essa metamorfose ambulante. Eu
prefiro ser essa metamorfose ambulante. Do que ter aquela velha opinião formada
sobre tudo. ” Raul Seixas
A filosofia de
Heráclito estabelece que vida é constante movimento e, portanto, transformação
ou devir. Para ele, a metáfora do rio
representa a fluidez do curso existencial caracterizado pela impermanência. Com
base nessa observação, esse filósofo considera que o verdadeiro conhecimento
deve ser buscado além das aparências, das experiências, pois que elas são tão
mutantes, quanto o rio. A razão, portanto, deve ser a fonte do conhecimento.
As metamorfoses da vida, a
impermanência, o eterno “devir” como lei da natureza aplica-se também ao ser.
Para ele, não é possível “ser”, na medida em que o homem está em constante
mutação. Lógico pensar que ser é, em última análise, não ser.
Essa impossibilidade de se consolidar
uma identidade permanente para o ser é o tema de Metamorfose ambulante, de Raul
Seixas. Da mesma forma que para Heráclito nada existe concretamente, o autor da
letra destaca essa impossibilidade de ser estável em relação às concepções
existenciais, de se ter uma identidade definida: “Eu prefiro ser essa
metamorfose ambulante. Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Do
que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Sobre o que é o amor. Sobre o
que eu nem sei quem sou.”
Além disso, o “ser e não ser” de
Heráclito evidencia a concepção de unidade composta pelos contrários, pela
duplicidade, ou seja, tudo o que existe traz em si o verso e o reverso como
verdadeira identidade de ambos: um depende do outro para identificarem-se.
Observa-se que a metamorfose só é
possível pela existência dos opostos: Se
hoje eu sou estrela. Amanhã já se apagou. Se hoje eu te odeio. Amanhã lhe tenho
amor. Lhe tenho amor.
O eu-lírico se manifesta sempre dual. Ele prefere viver “nessa
metamorfose ambulante”, no devir que
traz sempre o desafio do novo a estabilidade que o tempo envelhece.
Célia Firmino
Reflexões Filosóficas – 24.02.2013
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