Fundamentos de Educação e Linguagem em DE MAGISTRO, de Santo Agostinho
São inúmeras e inexauríveis as
abordagens sobre o De Magistro, de
Santo Agostinho, dada a profundidade do seu conteúdo. Distante da pretensão do
ineditismo, este trabalho procurará tecer relações entre conhecimento, educação
e linguagem e seus reflexos nas ciências modernas. Observar-se-á, por meio de
leitura inferencial do Capítulo I - “ A finalidade da Linguagem”, como
Agostinho, de forma assistemática, reflete acerca da finalidade da linguagem
verbal e não verbal, desenvolvendo o conceito de signos em sua dimensão
significante e significado a serviço de finalidades cognitivas da relação de
ensino e aprendizagem, ou seja, aquisição do conhecimento.
O diálogo intitulado De Magistro (sobre o mestre) é
considerado uma das fontes mais profícuas de reflexão sobre Educação e
Linguagem. Como neoplatônico, Santo Agostinho desenvolve os temas por meio de
um processo de interlocução com Deodato, seu filho. Da perspectiva metodológica
é possível identificar a dialética platônica, ou seja, o procedimento da
interrogação para levar o interlocutor a pensar sobre o significado das
palavras e encontrar suas próprias respostas. Ele, na condição de mestre,
provoca o discípulo (1979, p. 349): “- Que te parece que pretendemos fazer
quando falamos?” Ao que Deodato responde com dupla alternativa: ensinar ou
aprender.
Em De Magistro, Agostinho destaca o verbo ensinar como pretensão daquele que se
serve da palavra, analisando-lhe o propósito comunicacional e cognitivo. O
subtítulo do diálogo, sobre o mestre,
corrobora o tema, pois a função do mestre é ensinar por meio da palavra ou sinais.
Assim, o filósofo inquire Deodato e problematiza a função da linguagem verbal
(a palavra): “— Vejo uma dessas duas coisas e concordo; com efeito, é evidente
que quando falamos queremos ensinar; porém, como aprender?”
Para
Agostinho, as palavras verbalizadas ou pensadas não são neutras. Elas são
tratadas como signos, ou seja, sinais exteriores (significantes) que carregam
em si conteúdos (significados). Enquanto significantes ou sinais exteriores, as
palavras são insuficientes para a significação das coisas. É necessário que
elas comuniquem mais do que representam a fim de despertar, pela recordação, o
ser interior ensinado pelo Cristo. Ao cumprir sua finalidade, as palavras e a
memória das palavras se tornam instrumentos de ensino.
Como
neoplatônico, Agostinho difere de seu antecessor no que se refere à recordação
ou o papel da memória. Para o bispo de
Hipona, a memória é uma faculdade da alma responsável por uma das dimensões da
divina trindade. Em Santo Agostinho (1980,
p.25) verifica-se que: “A memória, enquanto persistência de imagens produzidas
pela percepção sensível, corresponderia à essência (Deus Pai), aquilo que é e
nunca deixa de ser;(...). ” Nela está insculpido, indelevelmente, o endereço de
Deus, de forma que as palavras acordam no interior da criatura humana
significados divinos latentes. Dessa maneira, por iluminação, o homem realiza o
verdadeiro conhecimento das coisas.
Não por
acaso, a questão permanece inconclusa ao final do diálogo. Eis a grandeza do
filósofo. Temas universais não se restringem a uma época; devem seguir sua
trajetória iluminando os séculos futuros. A produção intelectual do mestre de
Hipona sobre a linguagem forneceu à Semiótica, à Linguística e à Comunicação
fundamentos para a estruturação desses importantes campos de estudo. A educação
deve-lhe importantes considerações acerca da aquisição do conhecimento por meio
da mediação discursiva e sua função na relação ensino e aprendizagem. Por fim,
a humanidade deve-lhe parte de sua própria história.
Célia
Firmino
Reflexões Filosóficas
16.03.2013
Referências:
SANTO AGOSTINHO (1980).
Tópicos. São Paulo: Abril Cultural [Coleção Os Pensadores – volume Santo
Agostinho].
________De Magistro.
São Paulo: Abril Cultural [Os Pensadores – volume Santo Agostinho].
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