sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Foram muitos, os professores...

(Discurso de Paraninfa da turma de Letras 2010)

A vocês que compuseram a minha história...

“Foram muitos, os professores...”
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas...
Que já têm a forma do nosso corpo...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ...
É o tempo da travessia ...E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos..."

Nesse momento, nenhum pensamento expressa melhor o sentido de estarmos aqui, do que a idéia de travessia. É preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. É o sentimento de busca que move esse espírito sempre inquieto, insatisfeito e eternamente aprendiz.
Não poderia deixar de registrar minhas múltiplas aprendizagens nesse longo percurso, participando de uma turma tão especial. O direito à licença poética me autoriza a parafrasear Shakespeare e outros autores:
- Aprendi que trabalhar não significa ganhar dinheiro. Ganhar a vida não é mesma coisa que saber vivê-la. Há aquisições, cujo valor não se traduz em pecúnia. A amizade, a ética, a integridade moral, por exemplo.
Aprendi que se dar do que temos é bom, dar do que somos é sublime. Pessoas. amigos, parceiros, aprendizagens não podem ser mensuráveis monetariamente. O essencial é invisível aos olhos.
- Aprendi a enxergar com o coração, quando as coisas se tornam difíceis e os olhos ficam cegos.
Aprendi que amigos e parceiros, de verdade, podemos usar (e às vezes abusar) sem o risco de perdê-los. Eles ficarão conosco até o fim, apesar de nossas sombras. Com eles, somos livres para errar sem medo, para aprender do jeito que somos.
- Aprendi que uma aula pode ser muito mais que um tempo e uma pauta, pode ser um encontro. E um encontro só acontece quando você consegue tocar a alma. Estar juntos só é possível quando estamos do lado de dentro.
- Aprendi que não importa o tipo de relacionamento que tenhamos com nossos alunos e parceiros de trabalho; um dia sentiremos falta deles: do sorriso, da depressão, do mau humor, da participação, do silêncio, das piadas, das cobranças, da indiferença, do envolvimento, das perguntas, das respostas, enfim, da humanidade de cada um.
- Aprendi que por trás da irritação, da ira, da ansiedade, da tristeza, do silêncio, da contestação, há uma pessoa que espera ser compreendida e amada; basta esculpi-la com o olhar e encontramos sempre um diamante de rara beleza.
- Aprendi que cada pessoa é insubstituível, porque é única. As funções, as profissões são impessoais e transitórias; as coisas passam, a essência fica,; as s pessoas continuam irrepetíveis. Deixam sua marca pessoal no caminho trilhado, como nenhuma outra: isso se chama identidade.
- Aprendi que cativar é ter necessidade um do outro. E a necessidade é a consciência de que é preciso compartilhar para sermos inteiros.
- Aprendi que não é a perfeição que torna o mundo mais bonito; é a paixão. Quando se é apaixonado pelo que faz, o mundo se transforma num espetáculo inesquecível e todas as pessoas, sem exceção, valem por estrelas; irradiam luzes, mesmo em noite escura.
- Aprendi que, às vezes, os nossos melhores professores são os alunos que nos submetem aos testes mais difíceis para esculpir as nossas almas. São os que exigem de nós paciência, tolerância, compreensão, aceitação incondicional, compaixão. Estão por toda a parte, representam os mais variados papeis. São os nossos “amores exigentes.”
- Aprendi que tempo não pára e, no entanto, ele envelhece. Nada é mais perecível do que o tempo. Mas, detemos o poder da eternidade. Eternizamos, em nós, os que aprendemos a amar (a mais sublime aprendizagem); e nos eternizamos nos corações que nos acolheram e nos deram de si mesmos..
- Aprendi, então, que cada pessoa é portadora de uma mensagem e, ao passar por nossas vidas, deixa sempre um pouco de si, assim como leva um pouco de nós. E se alguém se torna bagagem, a saudade é o sintoma de que estamos irremediavelmente do lado de dentro; deixamos de ser “eu” para sermos “nós”; isso se chama crescimento.
Hoje, revisitando a nossa trajetória, posso concluir que, parafraseando o escritor Bartolomeu Campos Queiroz, múltiplas foram as aprendizagens, muitos foram os meus mestres, e saibam que vocês, queridos formandos, estão entre os inesquecíveis. E de cada um juntei cada pedaço e protegi em minha intimidade como o mais valioso bem que possuo e que ninguém pode me tirar. E se posso compartilhar meu segredo, de tudo mais, resta ainda, a certeza da paixão como a primordial metodologia. E essencialmente por isso, tudo ficou definitivamente impossível de ser desaprendido.

Minha eterna e sincera gratidão.

Andradina, 17 de dezembro de 2010.

Profa. Msc. Célia Firmino